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Traduzido - Capítulo 6

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Mensagem por Maryah Qui Abr 22, 2010 4:20 pm

SEIS - SEM SALVAÇÃO


Na manhã clara e cedo de quinta, um auto-falante estalou no corredor do lado de fora do quarto de Luce:
“Atenção, Espada & Cruzanos!”
Luce rolou com um gemido, mas por mais arduamente que ela comprimisse o travesseiro ao redor de suas orelhas, pouco adiantava para bloquear o rosnado de Randy no sistema de auto-falante.
“Vocês têm exatos nove minutos para aparecerem no ginásio para o seu exame físico anual. Como sabem, nós não temos paciência com vagabundos, então estejam prontos e preparados para uma avaliação corporal."
Exame físico? Avaliação corporal? As seis e meia da manhã? Luce já se arrependia de ter ficado até tão tarde ontem a noite... e ter ficado acordada até bem mais tarde deitada na cama, se estressando.
Bem por volta da hora que ela começou a imaginar Daniel e Gabbe se beijando, Luce começou a se sentir enjoada - aquele tipo específico de enjoo que vinha de saber que ela fizera papel de boba. Não tinha como voltar para a festa. Só tinha como sair espreitando da parede e escapar para seu dormitório para duvidar daquela sensação estranha que ela tinha perto de Daniel, aquela que ela tolamente tomara como algum tipo de conexão. Ela tinha acordado com um gosto ruim das consequências da festa ainda em sua boca. A última coisa que ela queria pensar agora era sobre capacidade física.
Ela girou seus pés para fora da cama e colocou-os no frio chão de vinil. Escovando seus dentes, ela tentou imaginar o que a Espada & Cruz poderia querer dizer por “avaliação corporal.”
Imagens intimidantes de suas colegas – Molly fazendo dúzias de levantamentos com cara de má, Gabbe escalando facilmente uma corda de nove metros em direção ao céu – encheram sua mente. Sua única chance de não fazer papel de boba – de novo – era tentar tirar Daniel e Gabbe de sua mente.
Ela cruzou a parte sul do campus até o ginásio. Era uma ampla estrutura gótica com arcobotantes e torres pequenas em pedra não-esculpida que faziam-na parecer mais com uma Igreja do que um lugar onde se iria para fazer exercícios físicos. Enquanto Luce se aproximava do prédio, a camada de kudzu cobrindo sua fachada farfalhava na brisa matinal.
“Penn,” Luce chamou, vislumbrando sua amiga vestindo uma roupa esportiva amarrando seu tênis no banco. Luce olhou para baixo para sua roupa preta e botas pretas regulamentadas e de repente entrou em pânico por ter perdido algum memorando sobre o código de vestimenta. Mas então, alguns dos outros estudantes estavam vagabundeando fora do prédio e nenhum deles parecia muito diferente dela.
Os olhos de Penn estava grogues. “Tão cansada,” ela gemeu. “Eu karaoquei demais ontem a noite. Achei que poderia compensar ao tentar pelo menos parecer atlética.” Luce riu enquanto Penn lutava com o nó duplo em seu sapato.
“O que aconteceu com você ontem a noite, de qualquer jeito?” Penn perguntou. “Você não voltou pra festa.”
“Ah,” Luce disse, enrolando. “Eu decidi–”
“Gaaahh.” Penn cobriu seus ouvidos. “Cada som é como uma perfuratriz no meu cérebro. Me conta mais tarde?”
“É,” Luce disse. “Claro.” As portas duplas para o ginásio estavam abertas. Randy saiu com pesados crocs, segurando sua constante prancheta. Ela acenou para que os estudantes seguissem em frente, e um por um eles foram designados a sua estação física.
“Todd Hammond,” Randy chamou a medida em que o garoto de joelhos bambos se aproximava. Os ombros do Todd desabaram para frente como parêntesis, e Luce conseguia ver resquícios de um severo bronzeado de fazendeiro* atrás de seu pescoço.
* no original, 'farmer's tan ', ou seja, isso ->
Chame-se assim os fazendeiros costumam trabalhar muito ao sol enquanto usam uma camiseta, e, desse jeito, só se bronzeiam em seus braços e pescoço, deixando o resto do torso branco.
“Musculação,” Randy comandou, atirando Todd para dentro.
“Pennyweather Van Syckle-Lockwood,” ela gritou a seguir, fazendo com que Penn se agachasse e pressionasse suas palmas contra seus ouvidos novamente. “Piscina,” Randy instruiu, esticando a mão para a caixa de papelão atrás dela e jogando para Penn um maiô único vermelho com corte nadador.
“Lucinda Price,” Randy continuou, após consultar sua lista. Luce deu um passo para frente e ficou aliviada quando Randy disse, “Piscina também.” Luce se esticou para pegar o maiô único no ar. Estava esticado e fino como um pedaço de pergaminho entre seus dedos. Pelo menos cheirava a limpo. Mais ou menos.
“Gabrielle Givens,” Randy disse a seguir, e Luce se virou para ver a sua nova pessoa menos favorita resvalar em shorts pretos pequenos e uma fina regata preta. Ela estava nessa escola há três dias... como é que ela já tinha o Daniel?
“Oiii, Randy,” Gabbe disse, arrastando as palavras com um som fanhoso que fez Luce querer dar uma de Penn e cobrir seus próprios ouvidos.
Tudo menos a piscina, Luce desejou. Tudo menos a piscina.
“Piscina,” Randy disse.
Andando para perto de Penn na direção do vestiário das garotas, Luce tentou evitar olhar para trás para Gabbe, que girou, em seu dedo indicador com unha francesinha, o que parecia ser o único maiô fashion na pilha. Ao invés, Luce focou nas paredes de pedra cinza e na velha parafernália religiosa cobrindo-as. Ela passou por cruzes entalhadas floreadamente em madeira com descrições em seu baixo-relevo da Paixão.
Uma série de trípticos desbotados estavam pendurados à vista, com somente as órbitas das auréolas das imagens ainda iluminadas. Luce se inclinou para frente para ter uma visão melhor do grande pergaminho escrito em latim, envolto em vidro.
“Decoração pra cima, não é?” Penn perguntou, engolindo um par de aspirinas com um gole d’água de sua bolsa.
“O que são essas coisas todas?” Luce perguntou.
“História antiga. As únicas relíquias sobreviventes de quando esse lugar era ainda o local de Missas, lá nos dias da Guerra da Sescessão.”
“Isso explica porque parece tanto com uma igreja,” Luce disse, parando na frente de uma reprodução de mármore da Pietà de Michelangelo.
“Como todo o resto nessa possilga, eles fizeram um trabalho porco total em atualizá-lo. Quero dizer, quem constrói uma piscina no meio de uma igreja velha?”
“Você está brincando,” Luce disse.
“Bem que eu queria.” Penn girou seus olhos. “Todo verão, o diretor fixa na cabecinha a ideia de me colocar para redecorar esse lugar. Ele não admite, mas todo o negócio de Deus aqui realmente o apavora,” ela disse. “O problema é que, mesmo que eu sentisse vontade de dar uma ajuda, eu não faço ideia do que fazer com todo esse lixo, ou mesmo como limpar isso sem ofender, tipo, meio mundo e Deus.”
Luce lembrou-se nas paredes brancas imaculadas dentro do ginásio de Dover, fileira após fileira de fotos tiradas profissionalmente de campeonatos estudantis, cada uma combinando com o mesmo cartão azul-marinho, cada uma exibida em uma moldura dourada combinando. O único corredor mais santificado na Dover era sua entrada, que era onde todos os ex-alunos-que-viraram-senadores-estaduais e vencedores da sociedade Guggenheim* e bilionários comuns apresentavam seus retratos.
* Sociedades Guggenheim são dadas, desde 1925, pela Fundação Memorial de John Simon Guggenheim para aqueles que "demonstraram uma capacidade excepcional em um aprendizado produtivo ou habilidade criativa excepcional nas artes."
“Você poderia pendurar todas as fotos de polícia* atuais dos ex-alunos,” Gabbe ofereceu de trás delas.
* no original, 'mug shots', que são aquelas fotos tiradas quando a pessoa é fichada pela polícia.
Luce começou a rir – era engraçado... e estranho, quase como se Gabbe tivesse acabado de ler sua mente - mas então ela se lembrou da voz da garota na noite anterior, dizendo a Daniel que ela era a única que ele tinha. Luce rapidamente engoliu qualquer noção de uma conexão com ela.
“Vocês estão se dispersando!” Gritou uma desconhecida treinadora de ginásio, aparecendo do nada. Ela – pelo menos Luce achava que era ela – tinha uma bucha de cabelo castanho frisado puxado para trás em um rabo-de-cavalo, panturrilhas como um pernil de porco, e aparelho dental "invisível” amarelado cobrindo seus dentes de cima. Ela empurrou as garotas nervosamente para um vestiário, onde a cada uma foi dado um cadeado com uma chave e direções para um armário vazio com um empurrão.
“Ninguém se dispersa na vigia da Treinadora Diante.”
Luce e Penn lutaram para entrar em seus maiôs desbotados e frouxos. Luce estremeceu ao ver seu reflexo no espelho, então cobriu o máximo de si mesma que conseguiu com sua toalha.
Dentro do espaço de natação úmido, ela imediatamente entendeu sobre o que Penn estava falando. A própria piscina era gigante, tamanho olímpico, um das poucas características atuais que ela tinha encontrado até então nesse campus. Mas não era isso que a tornava notável, Luce percebeu espantosamente. Essa piscina tinha sido construída bem no meio do que costumava ser uma igreja enorme.
Havia uma fileira de lindas janelas com vitrais, com apenas alguns painéis quebrados, atravessando as paredes perto do teto alto e arqueado. Havia nichos de pedra acesos por luz de vela pela parede. Um trampolim tinha sido instalado onde o altar provavelmente costumava estar. Se Luce não tivesse sido criada agnóstica, mas, ao invés, como uma fiel temente a Deus, como o resto de seus amigos no ensino fundamental, ela poderia ter pensado que esse lugar essa sacrílego.
Alguns dos outros estudantes já estavam na água, arfando por ar enquanto completavam suas voltas. Mas eram os estudantes que não estavam na água que capturaram a atenção de Luce. Molly, Roland, e Arriane estavam todos espalhados nas arquibancadas pela parede. Eles estavam rindo de algo. Roland estava praticamente dobrado, e Arriane estava enxugando lágrimas. Eles estavam com maiôs e sungas muito mais atraentes do que Luce, mas nenhum deles parecia que tinha alguma intenção em fazer um movimento na direção da piscina.
Luce cutucou seu maiô único caído. Ela queria ir se juntar a Arriane – mas bem quando ela estava pesando os prós (a possível entrada num mundo de elite) e contras (a Treinadora Diante repreendendo-a como uma embargadora consciente a exercícios), Gabbe vagueou até o grupo. Como se ela já fosse a melhor amiga de todos eles. Ela tomou um assento ao lado de Arriane e imediatamente começou a rir também, como se, qualquer que fosse a piada, ela já tinha entendido.
“Eles sempre têm bilhetes para ficarem sentados,” Penn explicou, olhando feio para a galera popular nas arquibancadas. “Não me pergunte como eles se safam disso.”
Luce circundou e hesitou no lado da piscina, incapaz de captar as intruções da Treinadora Diante. Ver Gabbe et al* agrupados nas arquibancadas, estilo garotos descolados, fez Luce desejar que Cam estivesse lá. Ela conseguia imagina-lo parecendo sarado em uma reluzente sunga preta, acenando para que ela viesse para o grupo com seu grande sorriso, fazendo-a se sentir imediatamente bem-vinda, até mesmo importante.
* latim para 'e os outros'
Luce sentiu uma necessidade persistente de se desculpar por se evadir da festa dele mais cedo. O que era estranho – eles não estavam juntos, então não era como se Luce fosse obrigada a explicar suas idas e vindas para Cam. Mas ao mesmo tempo, ela gostava quando ele prestava atenção nela. Ela gostava do jeito que ele tinha um cheiro meio de livre e aberto, como dirigir com as janelas abaixadas de noite. Ela gostava do jeito que ele sintonizava completamente quando ela falava, imóvel como se ele não conseguisse ver ou ouvir mais ninguém além dela. Ela até mesmo gostara de ser levantada do chão na festa, em plena vista do Daniel. Ela não queria fazer nada para que Cam reconsiderasse o jeito que ele tratava ela.
Quando o apito da treinadora soou, uma Luce muito assustada levantou-se, então olhou para baixo com arrependimento enquanto Penn e todos os outros estudantes perto dela pularam para frente, na piscina.
Ela olhou para a Treinadora Diante por instruções.
“Você deve ser Lucinda Price – sempre atrasada e nunca escuta?” A Treinadora suspirou.
“A Randy me contou sobre você. São oito voltas, Escolha seu melhor estilo de natação.”
Luce assentiu e ficou de pé com seus dedos dos pés curvados perto da beirada. Ela costumava amar nadar. Quando seu pai a ensinou na piscina comunitária de Thunderbolt, ela até mesmo ganhara um prêmio como a criança mais nova a já desbravar as profundezas sem boias. Mas isso foi há anos. Luce não conseguia nem se lembrar da última vez que tinha nadado. A piscina exterior aquecida da Dover sempre brilhara, tentando-a - mas era fechada para qualquer um que não estivesse no time de natação.
A Treinadora Diante limpou sua garganta. "Talvez você não tenha entendido que isso é uma corrida... e você já está perdendo."
Essa era a “corrida” mais patética e ridícula que Luce já tinha visto, mas isso não impediu seu lado competitivo de aparecer.
“E... você ainda está perdendo,” a Treinadora disse, mastigando seu apito.
“Não por muito tempo,” Luce disse.
Ela checou a competição. O cara a sua esquerda estava cuspindo água de sua boca e fazendo um nado livre desajeitado. A sua direita, uma Penn com tampão nasal estava vagarosamente surfando junto, seu estômago descansando em uma pranchinha de espuma rosa. Por uma fração de segundos, Luce olhou para a multidão nas arquibancadas. Molly e Roland estavam assistindo; Arriane e Gabbe estavam desmoronadas uma em cima da outra em um ataque irritante de risadinhas.
Mas ela não ligava do que elas estavam rindo. Mais ou menos. Ela tinha ido.
Com seus braços curvados sobre sua cabeça, Luce mergulhou, sentindo suas costas arquearem enquanto ela deslizava na água ondulada. Poucas pessoas podiam fazer isso muito bem, seu pai uma vez explicou para uma Luce de oito anos na piscina. Mas uma vez que você aperfeiçoou o nado borboleta, não havia jeito de se mover mais rápido na água.
Deixando seu aborrecimento a propelir para frente, Luce levantou a parte superior de seu corpo para fora da água. O movimento voltou imediatamente para ela e ela começou a bater seus braços como asas. Ela nadou mais arduamente do que tinha nadado em muito, muito tempo. Se sentindo justificada, ela passou pelos outros nadadores uma vez, depois outra.
Ela estava chegando ao fim de sua oitava volta quando sua cabeça apareceu para fora da água por tempo o bastante para ouvir a voz vagarosa de Gabbe dizer, “Daniel.”
Como uma vela apagada, o ímpeto de Luce desapareceu. Ela colocou seus pés para baixo e esperou para ver o que mais Gabbe tinha a dizer. Infelizmente, ela não conseguiu ouvir mais nada além de um chapinhar ruidoso e, um momento depois, o apito."
“E o vencedor é,” a Treinadora Diante disse com uma expressão assombrada, “Joel Bland.”
O garoto magrelo de aparelho da raia ao lado pulou para fora da piscina e começar a fazer barulho para celebrar sua vitória.
Na raia do lado, Penn parou abruptamente. “O que aconteceu?” ela perguntou a Luce. “Você estava arrasando total com ele.”
Luce deu de ombros. Gabbe era o que tinha acontecido, mas quando ela olhou para a arquibancada, Gabbe tinha ido, e Arriane e Molly tinham ido com ela. Somente Roland permanecia onde o grupo estivera, e ele estava imerso em um livro.
A adrenalina de Luce tinha crescido enquanto ela nadava, mas agora ela tinha caído tanto que Penn teve que ajuda-la a sair da piscina.
Luce observou Roland pular das arquibancadas. “Você estava muito bem lá,” ele disse, jogando-lhe uma toalha e a chave do armário do vestiário que ela tinha perdido.
“Por um tempinho.”
Luce pegou a chave no ar e amarrou a toalha ao seu redor. Mas antes que ela pudesse dizer algo normal, como "Obrigada pela toalha," ou “Acho que estou simplesmente fora de forma,” esse novo e estranho lado “cabeça-quente” dela, ao invés, simplesmente falou, “O Daniel e a Gabbe estão juntos ou o quê?”
Grande erro. Enorme. Ela conseguia dizer pelo olhar nos olhos deles que a pergunta dela estava direcionada bem para o Daniel.
“Ah, entendi,” Roland disse, e riu. “Bem, eu não sei dizer ao certo...” Ele olhou para baixo para ela e coçou seu nariz e deu-lhe o que pareceu ser um sorriso solidário.
Então ele apontou na direção da porta do corredor aberto, e quando Luce seguiu seu dedo ela viu a silhueta composta e loira de Daniel passar. “Por que você simplesmente não pergunta a ele?”
O cabelo da Luce ainda estava pingando e seus pés ainda estavam descalços quando ela se encontrou pairando na porta de uma enorme sala de musculação. Ela tinha intencionado ir diretamente para o vestiário se trocar e secar. Ela não sabia por que esse negócio com a Gabbe estava balançando ela tanto. Daniel podia ficar com quem ele quisesse, certo?
Talvez Gabbe gostasse de garotos que mostrassem-lhe o dedo do meio. Ou, mais provável, esse tipo de coisa não acontecia com a Gabbe.
Mas o corpo de Luce venceu sua mente quando ele captou outro vislumbre de Daniel. As costas dele estavam voltadas para ela e ele estava de pé em um canto pegando uma corda de pular de uma pilha de emaranhados. Ela observou enquanto ele selecionava uma fina corda azul-marinha com cabos de madeira, então se moveu para um espaço aberto no centro da sala. Sua pele dourada estava quase radiante, e cada movimento que ele fazia, fosse girando seu longo pescoço para esticar ou se curvando para coçar seu joelho esculpido, fazia Luce ficar completamente extasiada. Ela ficou pressionada contra a porta, alheia de que seus dentes estavam tremendo e sua toalha estava ensopada.
Quando ele levou a corda para trás de seus tornozelos logo antes de começar a pular, Luce foi golpeada com uma onda de déjà vu. Não era exatamente que ela sentia que tinha visto Daniel pular corda antes, mas mais que a postura que ele tomava parecia inteiramente familiar.
Ele ficou de pé com seus pés a uma distância de quadril, destravou seus joelhos, pressionou seus ombros para baixo enquanto enchia seu peito de ar. Luce quase podia ter desenhado isso.
Foi só quando Daniel começou a girar a corda que Luce saiu do transe... e entrou logo em outro. Nunca em sua vida ela tinha visto outra pessoa se mover como ele. Era quase como se Daniel estivesse voando. A corda passou por cima e sobre sua alta estrutura tão rapidamente que desaparecia, e seus pés – seus graciosos e estreitos pés – eles ao menos estavam tocando o chão? Ele estava se movendo tão rapidamente, mesmo ele não devia estar contando.
Um alto resmungo e uma pancada no outro lado da sala de musculação tirou a atenção de Luce. Todd estava em um amontoado na base de um dos nós das cordas de escalada. Ela sentiu, momentaneamente, pena de Todd, que estava olhando para baixo para suas mãos com bolhas.
Antes que ela pudesse olhar de volta para Daniel para ver se ele tinha notado, uma fria precipitação negra ao redor de sua pele fez Luce tremer. A sombra varreu-a, primeiramente devagar, gelada, tenebrosa, seus limites ocultos. Então, repentinamente bruta, ela golpeou seu corpo e a forçou para trás. A porta para a sala de musculação bateu em sua cara e Luce ficou sozinha no corredor.
“Au!” ela gritou, não exatamente por estar machucada, mas porque ela nunca fora tocada pelas sombras antes. Ela olhou para baixo para seus braços, onde quase parecera que mãos tinham agarrado-a, empurrando-a para fora do ginásio.
Isso era impossível – ela simplesmente tinha estado em um lugar bizarro; um vento muito forte deve ter passado pelo ginásio. Desconfortável, ela se aproximou da porta fechada e pressionou saeu rosto contra o pequeno retângulo de vidro.
Daniel estava olhando em volta, como se tivesse ouvindo algo. Ela tinha certeza que ele não sabia que era ela: Ele não estava fazendo cara feia.
Ela pensou na sugestão de Roland de que ela simplesmente perguntasse a Daniel o que estava acontecendo, mas rapidamente dispensou a ideia. Era impossível perguntar qualquer coisa ao Daniel. Ela não queria trazer a tona aquela carranca no rosto dele.
Além do mais, qualquer pergunta que ela talvez pudesse apresentar seria inútil. Ela já tinha escutado tudo que precisava escutar ontem a noite. Ela teria que ser algum tipo de sádica para pedir que ele admitisse que estava com a Gabbe. Ela se virou na direção do vestiário quando percebeu que não poderia partir.
Sua chave.
Deve ter escorregado de suas mãos quando ela tropeçou para fora da sala. Ela ficou na ponta dos pés para olhar para baixo pelo pequeno painel de vidro na porta. Ali estava, uma mancada bronze num tapete azul acolchoado. Como tinha ido parar tão longe na sala, tão perto de onde ele estava malhando? Luce suspirou e empurrou a porta para abrir, pensando que se tivesse que entrar, pelo menos ela iria rápido.
Alcançando sua chave, ela roubou uma última olhada nele. Seu passo estava ficando devagar, devagar, mas seus pés ainda mal tocavam o chão. E então, com um salto, leve-como-o-ar, final, ele parou e virou para encara-la.
Por um momento ele não disse nada. Ela conseguia sentir-se ruborizar e realmente desejou que não estivesse usando um maiô tão horroroso.
“Oi,” foi tudo que ela conseguiu dizer.
“Oi,” ele disse de volta, em um tom de voz muito mais calmo. Então, gesticulando para o maiô dela, disse, “Você ganhou?”
Luce deu um riso triste e reticente e balançou sua cabeça. “Bem longe disso.”
Daniel franziu seus lábios. “Mas você sempre foi...”
“Eu sempre fui o quê?” “Eu quero dizer, você parece que talvez seja uma boa nadadora.” Ele deu de ombros. “Só isso.”
Ela deu um passo na direção dele. Eles estavam a apenas trinta centímetros de distância. Gotas d’água caíram do cabelo dela e tamborilaram como chuva nos tapetes do ginásio. “Não era isso o que você ia dizer,” ela insistiu. “Você disse que eu sempre...”
Daniel se ocupou enrolando a corda de pular ao redor de seu pulso. “É, eu não quis dizer você você. Eu quis dizer no geral. Eles sempre devem deixar você vencer a sua primeira corrida aqui. Um código de conduta não-falado nosso, os mais velhos.”
“Mas a Gabbe também não ganhou,” Luce disse, cruzando seus braços sobre seu peito. “E ela é nova. Ela nem ao menos entrou na piscina.”
“Ela não é exatamente nova, só está voltando após um tempo... fora.” Daniel deu de ombros, não transparecendo nada de seus sentimentos por Gabbe. Sua tentativa óbvia de tentar parecer despreocupado fez Luce ficar com ainda mais ciúmes. Ela observou ele terminar de enrolar a corda de pular em uma bobina, o jeito que suas mãos moviam-se quase tão rapidamente quanto seus pés. E aqui estava ela, tão desajeitada e solitária e gelada e isolada de tudo por todos.
Seu lábio tremeu.
“Oh, Lucinda,” ele sussurrou, suspirando pesadamente.
Seu corpo todo aqueceu por aquele som. A voz dele era tão íntima e familiar.
Ela queria que ele dissesse seu nome novamente, mas ele tinha se virado. Ele prendeu a corda de pular em um prego na parede. “Eu deveria ir me trocar antes da aula.”
Ela descansou uma mão no braço dele. “Espera.”
Ele empurrou com violência como se tivesse levado um choque – e Luce sentiu isso, também, mas era o tipo de choque que é bom.
“Você já teve a sensação...” Ela levantou seus olhos para ele. De perto, ela conseguia ver como eles eram diferentes. Eles pareciam cinzas de longe, mas de perto havia grãos violeta neles. Ela conhecia outra pessoa com olhos como aqueles...
“Eu podia jurar que nos conhecemos antes,” ela disse. “Estou louca?”
“Louca? Não é por isso que está aqui? Ele disse, afastando-a.
“Estou falando sério.”
“Eu também.” O rosto de Daniel ficou vazio. “E só para constar” – ele apontou para um dispositivo piscando pregado ao teto – “os vermelhos monitoram os perseguidores.” “Eu não estou te perseguindo.” Ela endureceu, muito ciente da distância entre seus corpos.
“Você pode dizer honestamente que não faz ideia do que eu estou falando?” Daniel deu de ombros.
“Eu não acredito em você,” Luce insistiu. “Olhe-me nos olhos e diga-me que estou errada. Que nunca na minha vida eu te vi antes dessa semana.”
Seu coração disparou enquanto Daniel dava um passo na direção dela, colocando ambas as mãos em seus ombros. Seus dedões cabiam perfeitamente nas ranhuras de sua clavícula, e ela queria fechar seus olhos ao calor do toque dele – mas ela não fechou. Ela observou enquanto Daniel curvava sua cabeça para que seu nariz quase tocasse o dela. Ela conseguia sentir seu hálito em seu rosto. Ela conseguia sentir um toque de doçura na pele dele.
Ele fez como pedido. Ele olhou-a no olho e disse, muito vagarosamente, muito claramente, para que suas palavras não pudessem possivelmente ser mal-interpretadas:
“Você nunca, na sua vida, me viu antes dessa semana.”
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Mensagem por nina Sex maio 14, 2010 8:39 pm

nefasto, mas necessárioo
aguardando continuação....
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